Governadora, que se disse surpreendida com atrocidades, participou de
reunião com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo
·
Juntos, eles anunciaram transferência de presos para unidades federais,
criação de comitê de gestão e mutirão da Defensoria Pública
CHICO DE GOIS – O globo
Publicado:9/01/14
- 20h55
Atualizado:9/01/14 - 22h04
SÃO LUIS - O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, reuniu-se nesta
quinta-feira com a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, para discutir uma
ação conjunta para tentar amenizar a situação nos presídios do estado, onde
foram registradas 60 mortes de detentos. Em sua primeira aparição pública em
entrevista depois que criminosos atearam fogo em ônibus, causando a morte de
uma menina de seis anos, a governadora disse que foi pega de surpresa pelas
atrocidades e fez uma análise curiosa para justificar o aumento da violência no
estado e nos presídios: para ela, isso vem ocorrendo porque o Estado, um dos
mais pobres do país, está ficando rico.
- O Maranhão está atraindo empresas e investimentos. Um dos problemas
que está piorando a segurança é que o Estado está mais rico, o que aumenta o
número de habitantes - justificou a governadora.
Roseana disse que em 2012 foram registradas quatro mortes no sistema
penitenciário maranhense e, até setembro do ano passado, 39.
- Até setembro estava dentro do limite que se esperava - declarou,
argumentando que as mortes ocorreram apenas em uma unidade do complexo de
Pedrinhas, onde duas facções disputam o domínio do tráfico e da cadeia, matando
seus rivais, inclusive decepando cabeças.
De acordo com a governadora, sua administração investiu em novas
unidades prisionais e na melhoria ao atendimento ao preso.
- Nosso sistema de saúde é muito bom para os presos - afirmou, para
complementar: - Nosso presídio feminino é um exemplo para todo o Brasil.
Roseana, assim como o ministro da Justiça, fizeram questão de lembrar
que outros estados, como Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Alagoas e
Rio Grande do Sul também enfrentaram uma onda de violência comandada por
detentos e que o governo federal ajudou os outros governadores. Segundo a
governadora, apesar das mortes, seu governo não cometeu nenhum ato contra os
direitos humanos. A ONU, porém, pede uma investigação sobre o assunto.
- Não cometemos nenhum crime de direitos humanos por parte do governo.
Mas temos de ser mais atentos - admitiu.
Ao ser perguntada sobre a intenção do procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, de pedir a intervenção no Estado por conta da violência, Roseana afirmou
que não acredita nessa hipótese e passou a enumerar uma série de obras e ações
que sua gestão tem feito.
- Eu não acredito que ele vá pedir a intervenção porque estou cumprindo
meu dever. O Maranhão está indo muito bem. Talvez seja o único estado do Brasil
que vai ter todas as suas cidades interligadas por asfalto.
Ela se irritou quando uma repórter perguntou ao ministro José Eduardo
Cardozo por que a presidente Dilma Rousseff e mesmo ele não haviam se
manifestado até o momento sobre os problemas no estado administrado pelo clã
Sarney.
José Eduardo disse que o governo se manifesta de forma concreta e
procura ajudar Estados administrados pela oposição e por políticos que apoiam o
governo. Mas Roseana, exaltada, disse que não é certo falar em família.
- Não existe família. Eu sou a governadora. Quem manda aqui não é a
família, sou eu. Vocês querem penalizar a família, mas eu, Roseana, sou a
responsável pelo que acontece no Maranhão - afirmou, sendo aplaudida por parte
da mídia que apoia seu governo.
As ações anunciadas pelo ministro da Justiça e pela governadora, porém,
não têm um impacto imediato - exceto pela transferência de presos para
penitenciárias federais, que José Eduardo recusou-se a dizer quando se dará,
quantos serão transferidos e para onde.
Entre as ações está prevista a criação de um comitê de gestão, comandado
por Roseana, mutirão da Defensoria Pública para ver os presos que podem deixar
os cárceres, interligação do sistema de inteligência, criação de um núcleo de
atendimento prisional, melhoramento no atendimento à saúde, capacitação de
policiais e implantação de alternativas penais e monitoramento eletrônico.