A CONTRADIÇÃO E O INADIMISSÍVEL

por: Chico Viana (vereador de São Luís)

Eu já escrevi que quando o cidadão perde a capacidade de se indignar contra a incapacidade, a leniência, a omissão, a ação funesta,, enfim contra dos desmandos que contra ele se perpetra, neste dia ele abdica da cidadania e engrossa o rol dos vencidos ou acomodados.

Mas é um exercício de permanente incômodo e revolta que inibe a tolerância e liquida com a paciência e o humor de qualquer um

A Constituição Federal fala grosso, como direito alienável do trabalhador a um salário mínimo capaz de atender as suas necessidades vitais básicas e às de sua família, bem como moradia,, alimentação educação, saúde, ,lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social.

Quinhentos e quarenta e cinco dá?

Bom, se não der, consola o Ministro do Trabalho descaradamente: “- A vida não termina com o mínimo”. E conclui –“Não faremos uma loucura com o mínimo.”

Ou seja, a loucura seria fazer cumprir esta Carta Magna, a lei mais desmoralizada neste País, só usada, e muito, quando é para cobrar devres e nunca para garantir direitos.

O Dieese, fez os cálculos direitinho, e definiu que para cumprir a determinação da lei, o mínimo deveria ser calculado neste mês de 2.194,76.

Do mesmo modo, e agora muito mais grave, a ANVISA resolveu proibir a venda de antimicrobianos sem receita médica. A justificativa: o uso indiscriminado de antibióticos pode causar resistência e favorecer o surgimento da super-bactéria, aquela que resiste a quase todos os antibióticos.

Ora meus já indignados leitores, se não estão fiquem, nunca vi tamanho despautério em minha vida de gente e de médico.

Temos no Brasil 455 municípios sem médicos, quase dez por cento dos 5. 383 que tínhamos em 2007, não sei se já foram criados outros, afinal neste Brasil todo político quer ter seu município de algibeira.

Juntando os municípios que não tem médico com os que tem mais de 3.000 habitantes por cada médico vamos a 783 municípios.

O acesso mais difícil a profissionais da medicina é ainda mais desigual quando comparados os números de capitais e regiões do interior. No Acre 74% dos 575 médicos ficam na capital; no Amazonas 88% (3.024) ; em Roraima são 10.306 médicos/habitantes no interior, apenas 15 deixaram a capital.

A quem é, digam-me , que um cidadão vai recorrer quando um familiar estiver com uma infecção, dessas infecções a princípio banais que o prático farmacêutico sempre tirou de letra, uma amigdalite, uma otite, uma conjuntivite, uma síndrome disentérica, uma ferida infectada, uma infecção dentária, enfim doenças que pela vida a fora, foram tratadas por leigos, graças a Deus?

Que bom seria se todos pudessem dispor de médicos a tempo e a hora, para prescrever os antibióticos, aí sim faria sentido uma medida esta medida tecnicamente acertada. Mas no Brasilzão onde o sul maravilha, acentua mais a desgraça do nordeste miserável, é piada.

Sabiam os senhores que hoje, não se pode comprar colírios, pomadas, pastilhas, nada seja antimicrobiano?

-Não, não pode porque vai causar resistência no organismo e quando o cidadão necessitar outra vez, o remédio não mais atua.

“Mobus in rebus”, também não é tão matemático assim e não será com uma duas ou meia dúzia de vezes que o uso de um antibiótico causa esta resistência tão temida, que só agora, 73 anos de Fleming haver descoberto a penicilina, entrou em moda. A mesma velha penicilina que ainda hoje trata,, e muito bem o “treponema pallidum”, o bichinho da sífilis, sem maiores resistências.

E tem mais. Com a carência de quem prescreva o tais remédios , o doente pode até não adquirir resistência ao remédio, mas com certeza, não vai resistir a recorrentes infecções sem qualquer tratamento. Morre, com a resistência vencida pela infecção, mas não cria resistência ao antibiótico, que, em casos excepcionais , deveria acabar com a resistência da doença e não do doente.

Agora, as contradições e o inadmissível

As contradições:

Antimicrobiano não pode, causa resistência, mas pode cortiscosteróide, um dos medicamentos de maiores efeitos colaterais que existem. Sangramentos intestinais, descompensação do diabetis, hipertensão arterial, aumento da pressão ocular, diminuição da resistência orgânica, este pode ser vendido ao talante do balconista.

Os anti-alérgicos, os broncodilatadores a maioria com vasopressores e potencialmente arritimicos, podendo levar a picos hipertensivos ou arritmias graves, é livre; a pomadinha para a ferida ou coceira, não.

O Viagra e similares para impotência sexual , o senhor compra quando e o quanto quer sem receita. O seu uso é restrito em portadores de certos tipos de doenças, podendo ser fatal, mas não tem problema, leva. Agora, o colírio para combater aquele olho vermelho e irritante, ou a pastilha para irritação na garganta ou o colutório para gargarejo, nem pensar. Vai ter que marcar uma consulta na Cemarc para daqui a dois meses com o otorino.

Agora o inadmissível.

Sob a leniência, e até agora omissão do Conselho Federal de Medicina, uma brutal interferência na prerrogativa do médico: só pode ser vendido( prescrito) uma unidade do antibiótico. Para a restrição ao uso abusivo de antibiótico ,é claro nenhum profissional da área não reconhece que a medida tem respaldo científico, mas se esquecem do respaldo logístico. Nos locais que não tem médico vai ser um caos. Onde tem médico, mas poucos, um problemão.

E no interior distante, onde de médico só se sabe o nome, vai aumentar a clientela das benzedeiras e dos pais de santo.