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O Brasil é a quinta economia do mundo! Nos últimos dez
anos excluímos da miséria 32 milhões de brasileiros com programas de transferência de
renda. O País é um jardim em obras do Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC).
Os números explodem os corações do baronato nacional: R$
8 bilhões em portos e aeroportos; R$ 50,4
bilhões em rodovias; R$ 46 bilhões em ferrovias; R$ 116,2 bilhões em hidrelétricas e para alegria da galera, R$
6,7 bilhões para estádios, afinal, o Brasil é o
País do futebol. Aqui está plantado Pelé, o maior jogador do mundo em todos os
tempos, e, de lucro, ainda temos o Neymar, que poderá seguir o mesmo destino do
rei, já que coincidentemente também é do Santos Futebol Clube.
E,
como somos generosos, destinamos a merreca de R$ 13,601 bilhões para pagamento dos agiotas das nossas dívidas eternas.
Que
beleza! Ninguém segura este País! Em breve seremos mais fortes que os Estados
Unidos(EUA), ajudados pelo furacão Sandy e principalmente se Mitt Romney vencer
as eleições. Maravilha! Daqui a pouco deixaremos a China para trás,
especialmente se 18º Congresso do Partido Comunista Chinês for um fisco.
Gloria!
Ah!
Acordei! Estou agora em um auditório lotado de índios Guaranis-Kaiowás, repre sentando o que
sobrou dos primeiros donos deste imenso território chamado Brasil. Os Guaranis
gemem pela dor dos tupinambás, os Patoxós, Terenas, Kaduel, Guajajaras, Krikatis,
Gaviões, Kaiapós e tantas outras etnias dizimadas ao longo destes cinco
séculos.
Os
Guaranis repetem pela trilhonésima vez que nestes 512 anos de barbárie civilizatória, quatro milhões e duzentos mil índios – dos
cinco milhões que existiam no início do genocídio – foram exterminados; que o
genocídio secular público-privado contin ua
em plena atividade, expresso na execução de 500 lideranças
nos últimos anos; na falta
de políticas de saúde; na tentativa de apagar a cultura
e, principalmente, no roubo de
seus territórios. Os Guaranis-Kaiowás simbolizam o genocídio planejado e executado pelo
Estado Brasileiro por meio de suicídios induzidos;execuçõ es planejadas; sequestros de
corpos para impedir os rituais sagrados; estupros seletivos e negativas de
cidadania.
Os
Guaranis-Kaiowás vivem em acampamentos cercados
de soja e pistoleiros, enquanto os latifundiários ressonam em casas grandes e bajulados por
autoridades. Enquanto os índios sobrevivem de cestas básicas, seus
inquisidores se alimentam de caviar e bebem uísque envelhecido; enquanto bebem água de riachos envenenados,
os brancos tomam banho
com água mineral; enquanto os primeiros habitantes do Brasil
usam luz de lamparinas,
o boi do fazendeiro faz
sexo em plena Luz Para Todos; crianças morrem de diarreia,
enquanto o cachorro dos latifúndios dispõe de médico veterinário vinte e quatro
horas e medicação do primeiro mundo; os índios são proibidos do estudo,
enquanto os filhos da elite estão em Harvard para continuar o genocídio. E
quando os índios saem das malocas, são obrigados a seguirem a pé espremidos
entre o arame farpado e os pneus dourados de máquinas voadoras ameaçadoras
(Toyotas, Mercedes, Ferraris e Porsches).
Está
história é contada há cinco séculos. Em 1995, quando estive na Câmara dos
Deputados pela primeira vez, ouvi falar do sofrimento dos Guaranis. No ano
passado, após 16 anos, testemunhei com os deputados Padre Ton e Erika Kokay, em
visita local, o genocídio público-privado dos Guaranis. Chorei!
Na
semana passada, no leito de um hospital, li a carta destes irmãos contando a
mesma história, acrescentando novas atrocidades e ameaçando o suicídio coletivo
diante da ameaça de despejo promovido pelo poder público–privado. Diante da
possível desgraça, os Guaranis voltaram a ser notícia. Novos discursos. Velhas
promessas. Algumas páginas de jornal e muito alarme nas redes sociais.
Manifesto
minha solidariedade. Repito agora e novamente a proposta que fiz naquela
reunião em Dourados(MS): Nada
de genocídio coletivo! A vida é para ser lutada e vivida coletivamente.
Se houver algum suicídio ou homicídio, ao invés
do enterro das
vítimas ser feito na solidão e
na escuridão de
um acampamento cercado de jagunços, que
seja feito na Praça dos Três Poderes, em Brasília,
após cortejo
fúnebre pelos salões azul e verde do Congresso Nacional; no Plenário do Supremo
Tribunal Federal e nos amplos salões do Palácio do Planalto.
Talvez
uma ação como esta à luz do dia faça o Estado Brasileiro recuar de suas
políticas genocidas público–privadas praticadas contra as nações indígenas.
Ações como estas podem despertar os burocratas, que durante o dia se enfurnam
nas sombras da burocracia decidindo para os de sempre e, à noite, se deleitam
nos prostíbulos de luxo.
Fazer enterro na Praça dos Três Poderes é
para denunciar ao
mundo que o Congresso
Nacional é refúgio para
os principais inimigos dos índios e quilombolas; é denunciar o Poder Judiciário, que freia as
decisões que autorizam a
violência e protegem o
latifúndio; e denunciar o Poder Executivo, que negligencia a gestão da libertação
dos territórios espoliados.
O
ex-presidente Lula pediu perdã o aos negros pelos
horrores da escravidão. A Igreja pediu perdão aos índios
pelas atrocidades praticadas em nome de Deus. Até o Ministro Joaquim Barbosa
pediu desculpas ao colega Ricardo Lewandowski.
Chegou
a hora da Presidenta
Dilma pedir perdão aos povos indígenas, reorganizando
a Fundação Nacional do Índio (Funai), instituindo uma política de saúde
decente, devolvendo os territórios roubados para seus legítimos donos,
determinando políticas públicas de respeito aos valores econômicos, ambientais
e culturais aos mais legítimos donos do Brasil.
A
Presidenta Dilma pode e deve instituir um PAC para questão racial no Brasil, com
recursos para indenizar os coveiros dos
nossos índios e quilombolas. Convocando o
Congresso, o Poder Judiciário, o Ministério Público, o Tribunal de Contas e a
sociedade para constituir um Pacto
Republicano de Verdade. Isto custa muito pouco diante de tanto
sangue derramado.
Os
Guaranis-Kaiowás e as demais nações indígenas não querem tomar uísque
envelhecido; não almejam um jatinho de luxo. Nossos irmãos índios e quilombolas
querem unicamente o direito de viverem sossegados em seus territórios. Este
direito custa menos de dez por cento do pagamento dos juros que são pagos aos
agiotas.
Precisamos
de estradas, portos, aeroportos, hidrelétricas e campos de futebol. Mas,
também, é preciso que esta Nação pague, urgentemente, com cidadania plena, as
seculares dívidas com os índios e negros deste rico Brasil. Somente assim
teremos paz e seremos um País justo e digno de ser a quinta economia do mundo.
Amém!
DOMINGOS DUTRA
Deputado
Federal (PT/MA)
Presidente
da Comissão de Direitos Humanos da Câmara