Guaranis-Kaiowás: Índios preferem a morte a serem expulsos de suas terras


Por Deputado Domingos Dutra(PT/MA)
Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara

Já anunciei por diversas vezes, na tribuna da Câmara, a falta de atenção das autoridades brasileiras para com os índios de todo o território Nacional, em especial aos da tribo Guarani-Kaiowá, do Mato Grosso do Sul, condenados a deixarem suas terras pela Justiça Federal. Após várias tentativas frustradas de permanecerem em suas terras, os índios Guaranis-Kaiowás enviaram uma carta à Presidenta Dilma Rousseff pedindo para que os exterminem de uma vez por todas.
A comunidade é composta por 170 índios originários de tekoha Pyelito kue/Mbrakay. Todos vivem às margens do Rio Hovy, no município de Iguatemi/MS. Na carta, a comunidade informa está cansada de tanta injustiça e que há mais de um ano os índios estão sem assistência alguma, isolados e cercados de pistoleiros contratados por fazendeiros da região.
Matéria publicada pela jornalista Eliane Brum, na Época, na última segunda-feira(22), aponta que a cada seis dias, um jovem Guarani-Kaiowá tira a própria vida. A Revista também apresenta dados do Ministério da Saúde, divulgados neste ano, mostrando que de 2000 até a presente data, 555 indígenas dessa etnia cometeram suicídio, sendo a maior parte dos casos por enforcamento (98%) e cometidos por homens (70%), a maioria deles na faixa dos 15 aos 29 anos.
Em um dos trechos da carta, os índios relatam o desejo da comunidade: "Pedimos ao Governo e à Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas solicitamos para decretar a nossa morte coletiva e para enterrar nós todos aqui. Pedimos, de uma vez por todas, para decretar a nossa dizimação/extinção total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar os nossos corpos. Esse é nosso pedido aos juízes federais".
Recebi a decisão dos Guaranis-Kaiowás sem estranheza, pois, o fato já vinha sendo anunciado há décadas. 
Já se conhece o diagnóstico da realidade dos Guaranis-Kaiowás. O genocídio é antigo, mas o Estado não apura os crimes. Então, é preciso garantir a vida dos que estão marcados para morrer e tem que desarmar as milícias. Tudo que estamos dizendo aqui só vai fazer sentido se for tomada uma decisão política urgente. Uma das formas de aliviar a tensão é a presidenta Dilma Rousseff decidir pelo pagamento de indenizações a produtores que foram assentados em terras pertencentes aos povos indígenas.
Eu, juntamente com a deputada Erika Kokay(PT/DF) e o deputado Padre Ton(PT/RO), realizemos uma diligência aos Guaranis-Kaiowás, em Dourados/MS, nos dias 2 e 3 de dezembro de 2011. Identificamos diversos problemas enfrentados pela comunidade, dentre as quais estão os pistoleiros que fazem terrorismo ao dispararem tiros à noite, acuando e impedindo a passagem dos índios por suas fazendas. Outra triste e lamentável observação refere-se ao grande número de suicídio e jovens índios dependentes de álcool e drogas por falta de perspectivas futuras.
Sou do partido do governo, porém, é inaceitável que os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário deixem desprotegidos os verdadeiros descobridores do Brasil.

Justiça se faz na luta!