Polícia não prende “assassinos” de radialista por medo dos poderosos?

Valério Luiz: um assassinato que a polícia quer apurar ou prefere esquecer?

Vamos fazer, pela enésima vez, uma pergunta inocente: por que, se sabe quem mandou matar o radialista Valério Luiz, se todos os indícios (polícia diz ter provas contundentes) apontam para um consórcio entre um empresário e um oficial da Polícia Militar, que contrataram um pistoleiro experimentado (talvez dos quadros da PM), por que a polícia não pede a prisão deles?
Segundo três delegados, a polícia fechou questão. Não há outra hipótese para o assassinato do radialista. A morte tem a ver com pessoas que mantêm ou mantiveram ligações com o clube de futebol Atlético. Se é assim, se os dados apurados apontam para três pessoas — uma contratou, o oficial da PM; a outra pagou, o empresário; e a terceira, o pistoleiro, matou —, por que a polícia não avança nas investigações? A polícia teme que, por alguma falha da investigação, pequena que seja, o trio — ou outros assassinos, talvez insuspeitos — consiga escapar. “Trata-se de gente muito rica, de um poder excessivo na sociedade, com advogados com ampla experiência nos tribunais”, diz um delegado. Se a investigação e a denúncia deixarem brechas legais, os advogados “derrubam” o inquérito. “Não sei se é exatamente o caso, pois não posso dizer com certeza absoluta que o mandante do crime está estabelecido, mas quem pode contratar advogados experimentados, com ampla influência no meio jurídico-judiciário, tem muito dinheiro e, por isso, poder”, afirma um delegado. “A pessoa certamente sabe que travará uma grande luta para evitar a condenação e, daí, a prisão. Mesmo que não tenha sido a mandante, a pessoa cercou-se de forte aparato defensivo. Os advogados já estudaram, possivelmente, todas as formas de livrá-la de uma prisão. A pessoa demonstra preocupação com a possibilidade de um pedido de prisão”, acrescenta o policial.
Na opinião de um advogado criminalista, se a polícia não avançar rapidamente, apresentando as provas existentes e, em seguida, enviando o inquérito para o Judiciário, a tendência é o crime ser esquecido, com o consequente engavetamento das investigações (a delegada-geral de Polícia Civil, Adriana Accorsi, já disse ao Jornal Opção que não “engaveta” inquéritos). “Porém, mesmo se chegar à Justiça, como os supostos mandantes são poderosos, o processo deve ter condução lenta. A contratação de advogados especializados em tribunais tem como objetivo principal retardar um possível julgamento, ou mesmo evitá-lo”, afirma o advogado. “No caso de uma prisão, se não houver sustentação lógico-factual, qualquer juiz poderá revogá-la e, depois disso, a pessoa dificilmente voltará a ser presa. É por isso, acredito, que a Polícia Civil está indecisa. Os indícios são fartos, mas provas materiais praticamente não existem. O fato de o oficial e o empresário terem almoçado na Churrascaria Lancaster Grill, se é um indício de que mantinham contatos extra Atlético, não significa, porém, que seja uma prova. Eles podem alegar que, amigos, frequentavam o mesmo lugar e outros para conversar.”
Conclusão: a polícia, pelo menos no momento, está num beco sem saída.